terça-feira, 30 de dezembro de 2008

natureza - morta

no gato preto

hoy estoy besando un beso;
estoy solo con mis labios.
pedro salinas

teu beijo deve ter gosto
de ácido de bateria
de licor das enzimas
e vaginas
dos dentes do silêncio
de vestido azul sobre a cama

teu beijo deve ter gosto
do horizonte bordado de barcas
de peixe que se esbate no raso
e do fôlego das conchas

deve ter gosto
de margarida brotada na lua
de sangue na paleta da tarde
dos becos úmidos da cidade
da noite que aperta
entre as coxas

teu beijo deve ter gosto
de lábios só saliva
de flores negras das axilas
de lesma atravessando o pátio

deve ter gosto
do amanhã, as raízes e as hastes
de respiração boca a boca
dos corpos no escuro
de nuvens carregadas e mordaças

teu beijo deve ter gosto
das lâminas
do aceiro de âncoras
da gasolina do açucar
do fruto nem nascido
(mas o fruto existe
como a idéia)
dos lábios da ferida

teu beijo deve ter gosto
de língua

Rodrigo Madeira

Catarina morreu afogada

Catarina morreu afogada, foram anos e nada...
Não sabendo se inundas rasa.
numa superficial tensão das aguas,
castigada na altura das nádegas,
por cima das voltas...gotas na agua,
caídas dos olhos, encharcados.

Ó corpos boiantes,
antes antevissem o atrevimento,
se bem que chuva não penetra em cimento,
mas bebe da luz, desenha com ela
transforma em flechas seus feixes postados em cruz.

Mas se a chave acobreada renega
a fêmea trava que segura
a luz amarela do beco pluvial mente estagnado:
escuridão do pobre atrasado,
que pega carona nas ondas
vindas de um corpo que surge
debaixo de um lindo sofá.
- A pobre senhora era um anjo.
- Não para mais na calçada
trocando algumas palavras.

Foi levada pra um cano
exposta na galeria, e quem sabe pelo cheiro
um dia acharão seu rosto,
na foto de um documento de arquivo.

E dirão a seu filho, ou filha não sei:
achamos o sofá, é de um vermelho francês;
podes reconhecer o cadáver?

Embaixo dos pés um bueiro,
bocejando borbulhas carmim.
Pede pra ficar a sós;
assim que a água baixar
te ponho em buraco sem porta.
Não se atreve a chorar.
lágrima corroboraria mansa
e transbordaria tristeza.
O caso termina na tela da tv?
Ou sucumbe a variação climática.

Só não leva choque a sola de borracha.

João Franscisco Paes

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

o desvio mínimo que você usa na gola da camisa
é meu mito: de que há certa solidez na aurora
que excita cores que não enxáguam doses de bocas
vivas no meu rastro, a sua.
a minha, seu atalho,leva a aquarelas que, sabe,
não tocam nunca os céus descartáveis

Natália Nunes

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Asas de Feliz Natal

Queridos todos, pouco entendo de alpiste e de cuidados de pássaros. Este ano persistentes e sabidos sabiás inventaram de fazer ninho nos cantos da minha casa. Partilho com vocês esta alegria no poema de Natal que nasceu voando, sem pensar em passar a limpo.....
Abraços e meu maior carinho!


Meu Deus, já é dia 23
e o presépio de Natal
ainda não foi montado!

Como não?

Encima do lustre velho
um sabiá chamado José
e uma sabiazinha Maria
bicam palha daqui e de lá
moldando com o corpo
um aconchego de ninho.

No meio de tantas penas
e de tantas despedidas
- quem não tem? -
esses pássaros de sempre,
ensaiam abraços de asas,
carregando uma estrela.

Uma coroa de advento
completa numa porta
seu ciclo de ciprestes.
E a eterna palavra fim
anoitecida de sonhos
madruga um recomeço..

Meu Deus, já é dia 24
e o presépio de Natal
ainda não foi montado!

Como não?

O lustre velho balança
um berço inusitado no ar.
As janelas descortinam
e se abrem de sim em sim....

Mas qual o motivo
de tanto silêncio?

É que nasce no presépio
de um sabiá chamado José
e de uma sabiazinha Maria
a própria palavra Nascimento.


Gloria Kirinus e família / Natal 2008

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

"Tal uma horda feroz de cães famintos,
atravessando uma estação deserta,
uivava dentro do eu, com a boca aberta,
a matilha espantada dos instintos."

Augusto dos Anjos;
in"As Cismas do Destino".

Alabama jukebox



http://www.wim-wenders.com/movies

JukeBox Quebrada

A memória com o desânimo
e desestimulo.
O é quando
apaga-se
feito silêncios doloridos
em bares crepúsculares
abrindo as portas para a noite.

Carlos Sousa

Férias

Dona Maria encontra-se em sua moradia
seus filhos a alertam que precisa ler mais,
ser uma senhora que conheça poesia,
e acompanhá-los nas grandezas culturais.


Dona Maria também tem a casa toda pela frente
que é insensível a leitura de obras-primas
de consagrados autores e poetas de invejável mente,
que dedicam todo o tempo a fazer rimas.


Ela encontra-se entre o pó e a poesia,
tem a sabedoria braçal das donas marias,
em que mais vale uma sujeira na mão,
do que duas, três esparramadas pelo chão.


Gregório e limpeza não combinam
mas espírito e alma se animam
e, declamando e procurando o rodo,
só o rodo é visto todo.

E eis que sai assim:

O rodo sem o cabo, não é rodo;
O cabo sem o rodo não é cabo;
Mas se o cabo o faz rodo, sendo cabo ;
não se diga que é cabo, sendo rodo.


Em toda limpeza de chão há rodo
E é rodo inteiro com qualquer cabo.
E feito cabo de rodo em todo rodo.
Com qualquer cabo sempre fica rodo.


O braço pega o cabo.
Pois, para a limpeza no fim do cabo, há rodo.
Assim, cada rodo há um cabo.


Não se achando o cabo deste rodo.
O braço não achará o cabo.
E a casa ficará sem a ação do rodo.

Deisi Perin

sábado, 20 de dezembro de 2008


um fauno

Há um nódulo na quinta-feira. Dizer adeus faz caírem meus cabelos. A verdade é uma lâmpada falha num quarto cheio de moscas e infiltrações de parede, mas a esperança, sobre as águas da febre, tem a pertinácia da cortiça. O tédio é a pior forma de tristeza.
Eis que alguma coisa no sol fratura tudo o que somos aqui em baixo. O dia mija luz sobre as coisas e fere e fede e ilumina um jardim de absurdos: borboletas com caules, gerânios asmáticos, orquídeas menstruadas, margaridas que suam, lírios que sangram, girassóis cujas corolas são ânus. O sol brilha também sob minha pele.
O ronco dos carros é quase uma fuga de bach. Quase beatífico, anuncia a metástase de um silêncio. Quando o pôr-do-sol vazar feito um vagaroso sangramento de nariz, haverá um segundo para nos olharmos, e no aço dos ossos florescerão pátinas e tétano, e na medula correrá a seiva elétrica das plantas que não existem. Com um estetoscópio de marfim, enquanto leio uns aforismos de blake, ausculto a parada cardíaca das pedras. Meço a pressão arterial e a solidão da chuva.
Ao entardecer, deito-me sobre as pastagens tauríferas, verde como o colegial de van gogh. Deixo o vento definir meu nome. Quando levanto, é meio-dia: estou numa praia cheia de ninfas que tatuam o sol na pele, e elas sorriem como o mar, puxando, puxando...
À noite, quando morremos mais de uma vez, a alma (esta ficção) faz guarida como um abajur no escuro. Todas as chaves perderam seus dentes, e não importa. Significar algo é brutal como empalhar uma criança. Estou alegre como quem anda descalço. Estou alegre como quem sobe o telhado. Ouço o sermão das nuvens. Ou me sento à mesa, corto um pedaço do peixe e já não digo nada (a boca cheia de silêncios): quais frutos velhos, as palavras estão abertas sobre a terra. Maré, por exemplo, cognoscível apenas pelo cheiro. Jogo longe minha flauta. As árvores, através dos vôos das aves, conversam entre si na distância imensa. Respirar é minha única religião.

Rodrigo Madeira

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

sexta-feira de lua
13 ou não, tanto faz.
acertaram um tórax
a ferro e fogo e completa falta de yin-yang
com um golpe turn off super man marlon brando
certeiro.
o que estava em volta do tórax
caiu como gelatina no meio da rua, basicamente osso e carne de quinta-feira ainda vivo.
uma gargalhada iluminava o beco distante
fazendo com que os ouvidos do assassino se voltassem para o eco,
seu rosto virava tal qual coruja precisa.
180 graus de fúria na cabeça, culpa nas costas e aquelas botas invocaram passos firmes na direção do voyeur que se atreveu.
a arma brilhava entre os dedos, mas o medo pingava da barba, escorria pelo pescoço.
na entrada do beco os passos cessaram, a tensão acumulada murchava. coração sem sangue.
maxilar travado, alívio, angústia...não havia ninguém.
primeiro caiu a arma, depois o assassino.
ele levava as mãos trêmulas à nuca, proximidade entre cabeça e chão.
após o ato criminoso não percebeu o som inconsciente do triunfo. não percebeu o quanto era mau, por só carregar sorrisos depois de mortes. a gargalhada era dele.
loucura e salvação nas lágrimas que molham a camisa.

Camila Vardarac

Refluxo Renil

A criança é mole. Plástica, pratica alongamentos impossíveis ao adolescente em diante. O fruto maduro já velho está murcho. Já o Curupira, anda com os pés de fasto na pressa de se apresentar assustadoramente para as crianças que venham a saber dele; e jocosamente para os adultos que dele querem fazer crença. Todos vão para o além além dele, em qualquer tempo, quem sabe!
O Curupira vai-se enganando os outros com o tempo que indo tá vindo e detrás da cortina, escondido, seus pés o denunciam dentro enquanto ele abre a janela e salta.
Criança, larga essa maçã que está estragada! Uma maçã estragada num cesto com outras maçãs perverte as outras e a mãe apavorada grita que o infante largue imediatamente aquela velha fruta que pereceu. Veneno.
Bruxa, bruxa a maçã que contamina as outras, cai na lixeira sem vida que já destinha quando colhida. Mãe dava maçã raspada para a criança passar mais horas viva junto dela viva. Em seus pensamentos às vezes ocorria um temor ligeiro, obsessivo, se levava ao filho o fruto proibido. O Curupira vinha encobrir à base de fumaça e pólvora os pensamentos da dona da casa que sem saber porque - sempre que dava a maçã - acabava a tarefa e fumava um cigarro. E enquanto pensava em nada - sem saber, pensando - lembrava em rasgões de cenas dum ser da mata, do tempo, do mato, a fumaça, o cigarro.

Maria José de Menezes

Lançado em Curitiba o volume 7 da antologia "Poesia do Brasil"

Lançado em Curitiba o Volume 7 da Antologia "Poesia do Brasil"
Por Andréa Motta


Em 18 de novembro de 2008, foi apresentada à comunidade literária de Curitiba, a Antologia Poesia do Brasil, Vol.7. O evento idealizado pelo núcleo de Curitiba do Proyecto Cultural Sur/Brasil, realizou-se no Centro de Letras do Paraná, em conjunto com a “Tarde da Poesia” – programação da Academia Paranaense da Poesia.


Estiveram presentes diversas Entidades Culturais do Estado e do Município, Poetas da Capital e do interior, Coral da Petrobrás, artistas plásticos, músicos, membros da Comunidade em Geral, além de diversos autores participantes do Volume 7 da antologia Poesia do Brasil, entre eles:

- Adélia Woellner, Andréa Motta, Deisi Perin, Eliane Justi, Lucy Reichenbach, Paulo Karam, Paulo Walbach Prestes e Sylvio Magellano. Dando início ao evento, a Professora Roza de Oliveira – Presidente da Academia Paranaense da Poesia passou a palavra à Coordenadora do núcleo de Curitiba do Proyecto Cultural Sur/Brasil, que realizou breve explanação sobre a antologia, sobre o Projeto Poesia na Escola e Congresso Brasileiro de Poesia.


Bem como, apresentou todos os poetas paranaenses participantes do volume 7, convidando os presentes a declamar um de seus poemas constantes do livro.Ao final foi efetuada pelos autores, doação de diversos exemplares do livro, para o Centro de Letras do Paraná e Academia Paranaense da Poesia - Entidades apoiadoras do evento.

Foram indiscutivelmente momentos de ímpar emoção e alegria.


quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Carpe Diem

Carpe diem, carpe inteiro.
Aproveitem o hoje sem temor.
Pois tudo na vida é passageiro.
Como bem o diz o cobrador.
Passam horas, passam dias.
Vive-se, morre-se ou se definha,
sem perceber as divisórias
de tão exíguas linhas.
Mas enfim, efêmera é a vida
e quero tê-la intensamente,
sem a falsa alegria dolorida
de quem só tem sorrisos com éter na mente
Começo a crer que eterna é a vida.
E nós, de carona, só de passagem,
somente somos superiores na ida,
e o ego nos cega bos parte de paisagem.
Estamos sempre revisados, ampliados e atualizados,
falamos que somos e acontecemos
porém, melhor seria fazer calados
os ideais que dia a dia esquecemos.
Se adultos, idéias tendenciosas.
Se jovens, impulsivos com novidade.
Se crianças, moldadas e teimosas.
Sobrou alguém com sanidade?
A bem da verdade, correto foi o Alienista
ao descobrir que ele era o único louco,
sem notar que o mundo é anarquista
dentro de regras, ciclos e sizo pouco.
Então, não há resposta ao descompasso,
o desconcerto do mundo é o que nos define,
resolvi brincar com as palavras que asso
pois as que frito engordam, e eu tô de regime.

Deisi Perin

Falo de Papel

D. Ceuseli terminou o serviço. Esqueceu o sabão na janela e o dr. Paulo dicou furioso com a incompetência dela. (Na verdade, ele já foi pobre e começou a "melhorar" depois que vendeu a primeira moto 125 cilindradas pro moço que confiou na palavra dele e nem verificou que o lucro embutido era mais de 30 por cento e ele comprou outra mais rápida que facilitava as entregas), ah! (mas esse passado ele enterrou e sai de vez em quando em rompantes de raiva das pessoas que são pobres, ou pretas, ou quase pretos quase brancos que são pobres, muito pobres como pretos, são quase todos quase nada, e ele sente raiva de em si ter um assim, que reaparece quando alguém que lhe parece superior aparece no seu caminho e lhe corta o passo). Dr. Paulo nunca fez análise. É diretor de logística reversa, fala inglês e alemão, dirige um carro cheio de recursos e velocidade, sabe tudo de engenharia reversa, essa possibilidade de reconstruir as etapas da construção de um produto; ou, dos processos desde a matéria-prima à entrega, devolução e reutilização e reciclagem, mas não usa esse conhecimento para pensar a história social e sua história pessoal.D. Ceuseli vai à psicóloga. Ficou deprimida morando naquela casa. O sofá quebrou, não deu pra consertar. As contas levavam o salário em seis dias. Ficava tensa de levar potinhos com açucar e feijão. Podia ser pega. O açucar, ela devolvia no início do mês. Compromisso sagrado. Mas o feijão, o dr. Paulo só comia cozido no dia e ele anunciava de manhã se era pra cozinhar ou não. No dia seguinte ela levava a sobra. Por isso não devolvia. Mas mesmo assim ficava estressada de ter que carregar um pouco de feijão e isso significar economia. Agradecia a Deus. Mas de novo, ainda assim ficava nervosa, ficava tensa, cansava, precisava desabafar e a filha levou-a ao psiquiatra da rede de saúde pública e lá ele evitou prendê-la como peixe pescado, em medicamentos pois poderia diminuir a resposta corporal à demanda de serviço e sondou se ela aderiria à idéia da psicoterapia. Ela topou.No dia do sabão esquecido, ela tinha lavado a vidraça e recolhia os produtos queando o telefone tocou. Dr. Paulo pedia duas garrafas que ela deveria pegar agora na prateleira baixa da reserva e transpor para a terceira fila da direita da escadam acima das de rótulo verde, inclinadas como as outras. Depois preparar dois tipos de canapés e deixar o queijo verde e o redondo sobre a tábua e ir embora,Era muita informação pro fim de tarde, e ela cumpriu tudo. Mas tinha terapia. Tinha que ir. Era um dos poucos momentos seus para si. Aí esqueceu o sabão.Dr. Paulo entrou na copa e viu aquele objeto fora de ordem. Cresceu-lhe a irritabilidade e para descarregar silencioso, com classe, deu um soco no suporte de papel toalha, de modo que o rolo amaciaria o impacto. O braço ficou retido na argola do suporte. Puxa, puxa, puxa, e lá está o sabão. Água na pia, sabão no braço, desvencilhou-se e ainda deu tempo de pentear com a mão o cabelo e retornar à sala, para dar continuidade à conversa com o casal Faulkwe, da qual poderia extrair a melhor impressão do presidente da Word Falk Corporation.Depois de desvencilhar o bra;o da algema que lhe pareceu o suporte, dr. Paulo sentiu-se mais vivo, mais livre, para propor uma idéia que lhe renderia por fora um lucro entre vinte e trinta por cento.
Maria José de Menezes
09/02/2007)

É meu Marido que Paga

É meu marido que paga ...

Quando eu era professor de matemática financeira, para facilitar o entendimento da matéria, eu utilizava como exemplos práticos, coisas do dia a dia das pessoas, tipo, uma venda a prazo em três pagamentos sem entrada, o cartão de crédito, a compra de combustível com cheque pré-datado, o penhor de jóias da Caixa, etc.

Meus cursos eram para profissionais da área financeira, ou seja, funcionários e gerentes de bancos, funcionários de financeiras ou departamentos de crédito, estudantes de economia ou administração, e afins.

Eventualmente, aparecia um médico, um dentista, um advogado, um dono de farmácia, que, talvez cansados de serem ludibriados financeiramente, decidiam aprender um pouco da tal matemática financeira.

Como em qualquer profissão ou atividade, com o tempo, o profissional passa a ter o chamado “olho clínico”. Isto é, aquela sensibilidade para “adivinhação”.

Para os professores, esse “olho clínico” possibilita saber de antemão, quais dos alunos entenderão mais facilmente a matéria, e, qual ou quais, entrarão e sairão do mesmo tamanho, isto é, sem entender bulhufas .

Pois bem, estava eu a explicar que, notadamente com inflação alta, quanto mais se postergar um pagamento, em não havendo juros de mora, tanto melhor para o devedor. E vice-versa.

Isto não é mistério, pois, sabe-se que em economias inflacionárias (e nisto nós brasileiros somos doutores), se não aplicado o dinheiro, quanto mais tempo passa, mais a inflação o corrói. Em outras palavras, a inflação é contra o credor, e portanto a favor do devedor.

Para facilitar o entendimento e possibilitar uma metodologia de cálculo, tomei como exemplo, o cartão de crédito.

Dizia eu:

Imagine que você vai fazer uma compra numa loja. Imagine que o preço, para pagamento em dinheiro (à vista) seja igual ao valor para pagamento com cartão de crédito. Imagine que você dispõe do dinheiro no bolso, caso fosse pagar em dinheiro (à vista).

Imagine também, que a data ideal para compra com seu cartão de crédito seja hoje.
Isto é, comprando hoje com o cartão, você só quitará a fatura daqui a trinta dias, pelo mesmo valor que pagaria à vista.

Ora, argumentava eu, financeiramente, na situação imaginada, opta-se pela compra com o cartão. De fato, pois o dinheiro da compra à vista, é aplicado, renderá juros por 30 dias, produzindo consequentemente ao final dos 30 dias, um montante maior que o valor da fatura do cartão de crédito.

A diferença entre, o montante da aplicação do dinheiro, e o valor da fatura do cartão de crédito, ou seja, os juros auferidos, representa a vantagem financeira que o devedor obtém, ao optar pela compra à prazo (no cartão).

Não creio que o prezado leitor, tenha tido alguma dificuldade para entender esta sistemática. Pode que não se tenha habilidade em fazer os cálculos, mas a idéia, acredito que esteja clara.

E o “olho clínico” ??? Perguntariam vocês. O que tem o ver o tal “olho clínico” com a inflação ou com o cartão de crédito ???

Eu explico.

dos alunos, era uma senhora, que não apresentava absolutamente o biótipo de um profissional da área financeira, tampouco aparentava ser uma estudante de economia ou administração.

Eu percebia que ela não estava entendendo “niente”. Eu até apostaria que ela não sabia, sequer, o que era inflação ...

Mas, como professor, e pelo dever do ofício, teria eu que dar-lhe uma chance para que ela esclarecesse suas dúvidas. Poderia ela estar sentido-se deslocada, pois o restante do grupo, eram todos profissionais da área financeira, e assim estaria ela retraída para perguntar, aquilo que não estivesse compreendendo.

Dirigindo-me a ela, dei-lhe então a oportunidade:

— E a senhora, qual seria sua opção nesta hipótese da compra com o cartão de crédito versus compra à vista ???

Ela respondeu-me.

— Este negócio daí, quem tem que entender é o meu marido, pois é ele quem paga a fatura do meu cartão de crédito ...

Osiris Duarte de Curityba

Publicado no Recanto das Letras em 05/10/2008Código do texto: T1212756

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

foto by Angela Gomes

Iluminação

Curitibano pagará mais caro pelas taxas e impostos da administração pública.

Prepare o bolso , o humor e as frases feitas em efeitos práticos.

Prepare a água e o cházinho para engolir, como sempre, as salgadas contas do início do ano.

A digestão é tão rápida que na próxima eleição você já esqueceu e pode deixar tudo como está.

Não faço apologias transformistas de mudança ampla, geral e irrestrita de pessoas.

Mudem a própria maneira de pensar, agir e falar.

Se não, para que querer iluminação nas ruas mais barata se a escuridão mental está muito bem instalada ?

Deisi Perin

O Conto do Grito

e o grito dos calados
fez calar os pássaros
quando a noite ia torpe,
e o vento encontrava a esquina.
Fz da rua um circo
e o público sonâmbulo aplaudia:
palhaçadas triviais
tíbias promessas
truques sem poesia...
a arte sorria,
ao som do aviso
de dias inteiros de silêncio e sono.
E o grito dos que dormiam,
assombrados por insônias outras.
eram homens, que perdidos os sonhos,
divagavam sem dúvidas pela meia luz do poder

Walkírya Bonadina
(anívelde agosto de 2002 n01 )

sábado, 13 de dezembro de 2008


Em Nome

do pai
do fumo da filha da grana
do álcool dos espíritos do mundo da fama
das drogas do mundo o êxtase das modas do mundo
a vagina da cama o falo
do coma
dos sonhos do mundo
a foda
da trama
do palco
das máscaras do mundo
a merda
da forma
do fundo
das estruturas do mundo
a mola
da bala
da vala
dos mortos do mundo
o mudo
da muda
do mundo
das flores do imundo
amém...
Jorge Barbosa Filho

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Tanto de meu estado sonâmbulo
me acho incerta.
Não sei se ronco,
não sei se babo.
Fato é que sinto um descompasso.
Meu raciocínio quer aprender.
Meu corpo quer adormecer.
Não sei mais o que faço.
Estando aqui, chego a dormir,
ficando lá, não dá para descansar,
e assim o tempo há de consumir.
O que entrou cristalizou.
Se bateu e não abriu,
que fazer se não voltou?

Deisi Perin

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Eu sou o Cara

Quinta-feira, 11 de Dezembro de 2008

Levei mais um pé na bunda. Outra namorada terminou comigo. Que foda! Que saco! Tô triste pra caralho.
Ela podia ter me perdoado. Foi só sexo... Expliquei tudo direitinho, pedi desculpas. Gastei com flores. Cheguei quase a escrever um poema. Desses idiotas, como todo poema. Ainda bem me dominei a tempo.
Que ela queria? Sou grosso sim. Sou macho! É disso que elas gostam.
Ninguém quer um frufruzinho do lado. Só se for do lado de fora. ahahahahahahahah
Já tô melhorando o humor.
O quê, você acreditou que tava sofrendo? Que que há meu? Tá me estranhando?
Só vou ter que procurar outro "come". Tá cheio por aí. Tem até quem goste de levar uns tapas. E bato mesmo. Já me chamaram de ogro, sou mesmo.
Afinal eu se basto

Deisi Perin

POEMA N 4

Poema № 4

Ao amanhecer a encontrei.
Sugeri que bebêssemos das claras da aurora.
Ela, com olhos negros, me disse: — não posso.
E se foi ...

Ao meio-dia, a encontrei outra vez.
Insisti que provássemos das delícias de um sol ardente.
Ela, com olhos negros e melancólicos, me disse: — não posso.
E se foi ...

Ao nascer da lua cheia, outra vez a encontrei e a convidei
para fartarmo-nos de luar e sermos felizes.
Ela, com olhos negros, melancólicos e chorosos, me disse: — não
posso, vou ao festival das lágrimas, cantar minhas dores.

E indo-se, falou: — eu sou a tristeza ...

Osiris Duarte de Curityba

http://www.recantodasletras.uol.com.br/poesiadetristeza

queimar

não me toque
estou encantado.
morri ontem
entrei pra eternidade
com todo o futuro
enterrado.
o fio de mel
em minha língua
de arame farpado
secando as roupas
das brevidades
no horizonte.
não, não me ame
onde finda o olhar
cruel dos amaciantes.
apenas me chame
pra deitar ao sol
de tua boca infame.
que horas são?
preciso encontrar
um tempo
enquanto é tempo
antes do agora
em combustão.

jorge barbosa filho, casa de ray (mundo) rolim. Morretes. 26 de dezembro de 2007

Só Neto de Canhões

Doces aulas de sons suaves,
doce repouso sobre meu braço,
onde o caderno fica nos ares
longo tempo sem o meu abraço.

Find'aula porém não nego suares
que retenho na memória de aço.
Acorda-me quando à chamada soares,
mas também não provoques colapso.

Bem pudera, nessa matéria, não ter provas
pr'alma sossegar e relaxar;
oferecer -se -iam angústias às favas.

Mas todos querem dar-nos notas
com métodos de apavorar,

Pra nós, pobres mortais, restam anedotas.

Deisi Perin

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

o eletro léxico dos pássaros

Reza

eu devo matar esta mulher dentro de mim
pra não matar esta mulher dentro de um bar
eu devo matar esta mulher dentro de mim
porque não se deve deixar viver em si qualquer mulher qualquer
eu devo matar esta mulher dentro de mim
pois matar primeiro a mim seria deixar vivê-la mais
eu devo matar esta mulher dentro de mim
porque antes do seu devir nunca tive vontade de matar
eu devo matar esta mulher dentro de mim
pra não morrer a cada dia um pouco mais

Adriano Smaniotto

Extraído da revista Beatriz 7

Um Cara

Tem um cara aí em cima
Tocando uma reforma
Com um martelo de aço
Pregando pequenas reproduções de Picasso
Nos buracos da encanação.
Ele me irrita profundamente
Cravando pregos em machucados
Que parecem buracos
Mas que são apenas a má-digestão
Do dia seguinte.
Tem um cara aí em cima
Que deu uma reviravolta
Ouvindo Paulo Vanzolini
Num bar de rodoviária
Com um copo de cerveja quente
Esbravejando para os vira-latas
E repetindo a frase “eu posso”.
Agora
Ele não cansa de bater
Uma vitamina pela manhã
Agora
Ele não cansa de escutar
Músicas de relaxamento.
Tem um cara aí em cima
Que me quer morto
Por que eu critiquei o Oswaldo Montenegro
Por que a sua mãe me deu mole no elevador
Por que ele não pode mais
Ter um copo de vodka nas mãos.

Tem um cara aí em cima
Que quando eu reclamo
Ele só sabe me chamar de bêbado.

Alexandre França

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

terça-feira, 2 de dezembro de 2008



Reflexões Sobre a Imagem

Acredito que a imagem tem poder de gritar em silêncio; porém a cada dia que passa, percebo que poucos são aqueles que ouvem os gritos.
Somos bombardeados com imagens o tempo todo, de tal forma que acaba por ocorrer o embotar de nossos sentidos.
A grande maioria das pessoas não é tocada realmente pela imagem, como reflexo de uma realidade que grita para ser modificada.
A pergunta é:
- Porque o retrato das mazelas humanas, a dor estampada em cada olhar vitimado pela ignorância atinge poucos ?
A resposta talvez esteja na banalização da vida como um todo.
Fechamos os olhos ou não olhamos para o feio, o triste, o sem cor ?
Queremos a vida colorida a qualquer custo. Faz-se necessário a ressensibilização real de nossos sentidos. Precisamos (re)aprender a ver não com nossos olhos, mas com a nossa alma.
Precisamos perceber que somos vida. Estamos rodeados de vida que não conhecemos, porque não nos permitimos olhar. Milhares de fotógrafos e cinegrafistas tiveram as vidas ceifadas para que pudéssemos saber o que está acontecendo num determinado lugar. Acreditam no poder da imagem, porém ela nos é servida entre a novela das sete e das oito em meio a culinária ou a vida badalada de alguma celebridade.
Tudo bem se você não quer olhar o feio, comece então olhando os olhos da criança que estiver mais próxima de você, pense que talvez daqui a algum tempo esse olhar já não será tão belo; talvez seja o olhar daquele que matará alguém empunhando uma arma, ou a muitos, se uma caneta.
Joselaine Mota

domingo, 30 de novembro de 2008


A figueira

A figueira “Jesus disse-lhe: Jamais nasça fruto de ti! E imediatamente a figueira secou.”(Mt 21, 19-20)



Elevada, isolada num barranco às margens de uma estrada que não unia nada senão a solidão ao silêncio, estava ela passivamente posicionada. Raízes expostas numa tentativa fracassada de fuga aos grilhões do torrão que a aprisionava. Apresentava um tronco vigoroso, espesso e que fora sulcado por eras e eras de persistência , enquanto os cupins, as formigas e outros parasitas devoravam-lhe, definhavam-lhe outras partes polpudas e mais vitais, uma imponência ímpar no meio daquela paisagem de desolação e tédio existencialista. A data precisa de seu plantio ninguém sabia ao certo, houve quem comentasse que fora germinada antes do nascimento do Salvador. Mais precisamente, à época da queda do primeiro anjo.Quando o dia estava a pino e o calor do sol já podia ser confundido com o mesmo efeito abrasivo das fossas infernais, a velha figueira funcionava como um farol de luz negra, a indicar uma rota aos peregrinos fatigados até um pouso reconfortante em sua vasta sombra, mesmo apesar de desfolhada, pois morta, ainda que de pé, sem viço, quedava-se ali. Suas raízes prolongavam-se por intermináveis ramificações e subdivisões até atingirem o inacessível centro da terra, onde sorviam o magma quente, alimentando-se dele e do ódio pulsante que vinha do submundo, ritmando uma cantiga de revolta, vingança e revanche.
Quantos lombos de escravos não foram escarnecidos por sob sua copa? Quantos facínoras, bandidos e inocentes não foram enforcados em seus galhos? E do sangue destes era nutrida toda uma legião de seres subterrâneos que, gargalhando, regozijavam num sabat de enxofre e fel. Seus galhos nus entrecortavam o vento e produziam um som, um gemido, uma lamúria lastimosa das inúmeras almas perdidas a vagar nas terras desoladas e aflitivas de Hades. Alguém lhe havia esculpido um sinal invertido da cruz, como uma advertência de um possível perigo iminente naquelas proximidades ou, provavelmente, mais uma demonstração do imaginário popular, recheado de superstições e crenças sem fundamentos no sobrenatural. Seus frutos há muito alguém os amaldiçoara, ao invés deles, havia apenas reminiscências de outrora, sobejo de dias felizes que, tão efêmero quanto o tempo, desvanecem-se como cinzas de incenso. Seu figo doce transformou-se em poder, luxúria e ira nos pactos de servidão demoníaca Seus galhos pesavam com essas memórias e, vergando até bem rente ao chão, davam uma idéia de árvore carregada, pronta para a colheita. Porém, a planta, mnemonicamente recordando as palavras proferidas em maldição, lembrava uma vez mais de sua esterilidade e assim quedava-se prostrada, em posição de derrota, só porque não pôde saciar a fome de um Deus amantíssimo, pão da vida, alimento de todos.
Quem porventura passasse por aquele lugar funesto ao final da tarde, quando a escuridão principiava a dominar, a tomar posse do que fora os restos mortais de mais um dia infrutífero, vislumbraria uma das cenas mais bizarras jamais vista. Não se sabe como, mas do ponto em que a árvore estava localizada, podia-se jurar que a noite jorrava dela, era assim, então, uma fonte, espalhando escuridão e caos por todo um firmamento ansioso pelas trevas. Neste período, em que o carro de Apolo não ousava mostrar sua ofuscante face, o silêncio reinava, imperador dos medos e calafrios, vez ou outra perturbado pelo estridente grito cortante de um hipogrifo, uma harpia ou uma banshee disfarçados de corujas, e a vastidão da perene noite chegava até aos confins do inimaginável. No inquietante silêncio, antes do orvalho lavar todas as chagas abertas pelo dia, ouve-se barulhos de cascos. Mefistófeles deleita-se com a visão de uma terra inteira mergulhada no mais puro breu, sem espaço para luz ou esperança. Fita, aprecia o quadro que sua maldade pintara. Olha mais uma vez a tudo, todavia, de olhos embotados, chora. Chora pois jamais criará algo de tamanha magnitude, o mundo. No mais, conseguiria apenas enegrecê-lo. Chora pela sua incapacidade, pela sua criatividade estéril, pela sua debilidade, por sua fraqueza e pela inveja, que lhe corroía as vísceras, sentida pelo ser que imaginara toda a beleza harmoniosa deste pequeno globo, tesouro perdido na Via Láctea. Porém, das lágrimas advém o riso e uma risada insana de quem sabe corromper, de um artista que sabe bem o seu ofício, misturando bem as matizes para obter uma melhor coloração do Mal; de um escultor que sabe aproveitar as rachaduras e as falhas nas estátuas de outrem para elaborar a sua própria imagem. Ele sempre soubera que o coração humano é terreno fértil para sua obra-prima.

José Ronaldo Mendes (Convidado)

Apesar

Apesar de o sol
ser a estrela do centro do Sistema Solar,
na fraca faixa de luz
através do céu noturno, habitamos.
Entre estrelas e nebulosas
passeamos os dias na Via Láctea
e preferimos astros artificiais
e luzes frias e solitárias.

Giramos em meio à poeira cósmica
sem atingir o núcleo.
Apenas conhecimentos elípticos
à velocidade do som
nos aproximam das constelações.
E quase sentimos
os hemisférios juntarem-se.

Mas a composição atmosférica
não tem energia suficiente para interagir.
Então emitimos
fracos raios espectrais sem cor, nem calor.
E brilhamos pouco e sozinhos
em nossas próprias estrelas.

Deisi Perin

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Trigonometria do teu Corpo

Reticente me embriago
no improviso do teu canto
E no improviso do afago
Sonho a lua prateando
os ângulos do teu corpo

Entre a brisa e o vento
na linha divisória do tempo
teu sorriso acelera os batimentos
Me embriago sem anticorpo
no improviso do teu canto.

Lua, lua lua
embebida miopia
e eu tão tua.

Andréa Motta

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Versos de Adeus

Um oi !
Um recomeço!
eterno suspiro
último suspiro

eterna vida prometida
sem começo nem fim
só de meios e caminhos
aparentemente sem pedras, enfim

versos de adeus
nunca um ponto final.

Deisi Perin

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres.

Uma em cada três mulheres é alvo de violência na sua vida.

veja o video:
Do estigma à sobrevivência

Na penumbra da cidade
brilho de lantejoulas
seios desnudos
lábios pintados de carmim
no corpo lanhado
tatuadas as marcas do desamor
Escoriações
hematomas
carne rasgada
alma amargurada
Nos desvios do tempo
Delitos, impunidade e dor,
violência doméstica
violência urbana
Nas esquinas um olhar
de menina amedrontada
não há lágrimas nem sorrisos.
Só um silencioso pedido de socorro
entre sonhos adormecidos.
No jogo da sobrevivência,
Sombras escamoteiam o medo.
No desenho da calçada
Rostos anônimos
gigolôs, prostitutas
sofismam pelos cruzamentos
escandalizando crentes
Loucas sombras funambulescas
na solitude noturna
conspiram versos desencantados
num pacto com o diabo
Mas o tempo, tal qual um sopro,
leva sem remorsos
o silêncio da noite, as escoriações
os hematomas, as mãos vazias
a dança do neon..
Na cauda do vento, a fantasia
por um instante,
insinua-se nos olhares castigados
suavizando-os.
Não importa
onde pouse o olhar
não importa
a identidade
nem o coração partido
Não importa
a desventura
nem as portas fechadas.
A alvorada traz a denúncia,
Incitando à liberdade!
quando cada um segue o seu destino.

Andrea Motta

domingo, 23 de novembro de 2008

Danificar ônibus, terminais e estações tubo, ou não pagar a passagem, encarece a tarifa

De um jeito desesperado eu tento esconder os gritos de um coração pesado. Cheio de angustias, lamentações e arrependimento. O motorista do ônibus nem sabe o motivo desse meu olhar preocupado e desse meu semblante sério. O esforço é enorme para engolir a dor que tenta sair e molhar meu rosto claro e com barba mal feita. O tal do motorista continua me olhando pelo espelho e eu não consigo disfarçar que alguma coisa incomoda. Parece que ele percebe. A senhora que está sentada de frente para mim corre os olhos por todo o ângulo que lhe é possível enxergar sem mover a cabeça e pára os olhos em mim. Como uma daquelas máquinas de jogos que nunca te dão dinheiro. Eu perdi. Os olhos enchem de lágrimas e eu olho para a janela fingindo um certo interesse em alguma placa ou nome de rua. Pelo reflexo do vidro da janela a moça que está em pé, atrás de mim, me olha sem piscar. A nóia só não é maior porque a ruiva que passa pela calçada, ao lado do ônibus, está grávida e com um suposto marido ao lado. Eu já não consigo carregar o peso de meus erros e eles começam a transbordar de um jeito constrangedor. Simulo sono e isso não resolve meu problema. Com o rosto úmido e com uma pressa que eu nunca tive, aproveito a brecha na porta ainda aberta e desço do ônibus antes de chegar ao meu destino. Acho que todos me olharam pela janela. Tenho cigarros, um casaco velho e um cachecol. Vou a pé pra casa, o rosto molhado é culpa da garoa.
Wilton Isquierdo

sábado, 22 de novembro de 2008

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Consciência X Consciência


Mulher Solteira Procura

Para ser lido ao som de Amy Whinehouse.

Lançar-se na busca da verdade pressupõe necessariamente um processo de desconstrução e reconstrução...não há ganhos sem perdas...
É preciso deixar de lado o que é estranho à nossa natureza e essência, conduzir-nos pela intuição mais preciosa, já que dentro de nós há alguém que tudo sabe e tudo vê. Um olhar atento para dentro, revela mais do que mil palavras... Explosão...

Só se é PLENAMENTE quando somos capazes de nos entregar nessa busca, respeitando toda a ambigüidade que é SER HUMANO.
É a consciência de que sentimentos antagônicos nos invadem e/ou habitam não nos é nociva?Antes sim nos liberta, à medida que nos permitimos saber-nos bons e/ou maus?
Conseqüentes e/ou inconseqüentes?
Santos e/ou demônios?
Não somos seres lineares e/ou bipolares?
E é o que nos permite uma infinidade de possibilidades de que o novo venha reformular o velho já existente em nós, renovando-nos (refiro-me àquelas verdades recebidas e internalizadas desde nossa mais tenra idade).
Ser é querer ser. Esse é o começo de tudo...

O desejo e a consciência de que a busca de nossa verdade é VITAL. Contudo, não podemos nos entregar a busca e “ser” plenamente, se nos prendermos ao “certo”, ao passado. Afinal, o que é o certo?
O novo pressupõe de alguma forma no aniquilamento em nós daquilo que já passou?
Soterrar o momento vivido e seguir em direção ao futuro incerto, desconhecido, com todas as novas expectativas que se encerra?
Essa aventura do “ser” efetivamente... viver do que mais há de mais genuíno em nós não pode comportar medo algum... ... pois esse sentimento nos afasta de nossa verdade, nos amarra ao aconchego que provem do presente seguro e certo.
Enquanto não se segue em frente, sem olhar para trás, permanece-se preso ao passado para sempre, sendo sombra do que se é efetivamente, parte de uma festa desconhecida e desejada.
Não se faz necessário qualquer mapa para a felicidade, ela reside dentro de cada um de nós, na beleza que advém das coisas mais simples da vida. Ela habita na coerência que interliga o nosso agir e/ou pensar. A equação reside em estabelecer a relação direta entre nosso desejo de “ser” e a entrega na busca, sem necessitar de sentido, não temendo a queda, pois precisamos dessas perdas cotidianas para nosso crescimento enquanto ser humano.

Então, digo-lhe: nada tema!

Viva e deixe que a vida lhe invada como uma manhã de sol - aqueça sua alma.
Ame e se deixe amar, pois é o amor que nos define enquanto seres humanos e nos imortaliza. Liberte-se e “seja” o que “é” VERDADEIRAMENTE.

Entregue-se à poesia que reside na aventura do desconhecido e de todas as expectativas inimagináveis do amanhã, recriando-se em si mesmo para sempre.


MARCIO CIDO SANTOS

Mulher Solteira Procura

Para ser lido ao som de Amy Whinehouse.


Lançar-se na busca da verdade pressupõe necessariamente um processo de desconstrução e reconstrução...não há ganhos sem perdas...É preciso deixar de lado o que é estranho à nossa natureza e essência, conduzir-nos pela intuição mais preciosa, já que dentro de nós há alguém que tudo sabe e tudo vê. Um olhar atento para dentro, revela mais do que mil palavras... Explosão...


Só se é PLENAMENTE quando somos capazes de nos entregar nessa busca, respeitando toda a ambigüidade que é SER HUMANO.É a consciência de que sentimentos antagônicos nos invadem e/ou habitam não nos é nociva?

Antes sim nos liberta, à medida que nos permitimos saber-nos bons e/ou maus?

Conseqüentes e/ou inconseqüentes?

Santos e/ou demônios?

Não somos seres lineares e/ou bipolares?

E é o que nos permite uma infinidade de possibilidades de que o novo venha reformular o velho já existente em nós, renovando - nos (refiro-me àquelas verdades recebidas e internalizadas desde nossa mais tenra idade).


Ser é querer ser.


Esse é o começo de tudo...O desejo e a consciência de que a busca de nossa verdade é VITAL. Contudo, não podemos nos entregar a busca e “ser” plenamente, se nos prendermos ao “certo”, ao passado.Afinal, o que é o certo?O novo pressupõe de alguma forma no aniquilamento em nós daquilo que já passou?Soterrar o momento vivido e seguir em direção ao futuro incerto, desconhecido, com todas as novas expectativas que se encerra?


Essa aventura do “ser” efetivamente... viver do que mais há de mais genuíno em nós não pode comportar medo algum... pois esse sentimento nos afasta de nossa verdade, nos amarra ao aconchego que provem do presente seguro e certo.Enquanto não se segue em frente, sem olhar para trás, permanece-se preso ao passado para sempre, sendo sombra do que se é efetivamente, parte de uma festa desconhecida e desejada.

Não se faz necessário qualquer mapa para a felicidade, ela reside dentro de cada um de nós, na beleza que advém das coisas mais simples da vida.Ela habita na coerência que interliga o nosso agir e/ou pensar.
A equação reside em estabelecer a relação direta entre nosso desejo de “ser” e a entrega na busca, sem necessitar de sentido, não temendo a queda, pois precisamos dessas perdas cotidianas para nosso crescimento enquanto ser humano.


Então, digo-lhe: nada tema!


Viva e deixe que a vida lhe invada como uma manhã de sol - aqueça sua alma.Ame e se deixe amar, pois é o amor que nos define enquanto seres humanos e nos imortaliza. Liberte-se e “seja” o que “é” VERDADEIRAMENTE.Se entregue a poesia que reside na aventura do desconhecido e de todas as expectativas inimagináveis do amanhã, recriando-se em si mesmo para sempre.


MARCIO APARECIDO DOS SANTOS

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

lancheria itália

a cidade
muda de mãos, num golpe

drummond

lancheria itália,
flor do escândalo,
uma roseira sem rosa,
se me permites

lancheria itália,
não sei escrever gazel,
ladainha,
b.o. ou grafite

lancheria itália,
de dia dormes com
suas velhinhas cafeinômanas
e a consciência limpa

lancheria itália,
o barato, tio, só é suave
até a página 20

lancheria itália,
licantropia de azarados,
engavetamento de vidas

lancheria itália,
meu mezzo del camin
meu são borja
e meu estige

lancheria itália,
teus alucinados
correm nus nas ruas
quebrando vitrines

lancheria itália,
misturas antipsicóticos e conhaque
em teu fígado

lancheria itália,
empoleirou-se
nos fios elétricos
o arcanjo do desastre
e da insídia

lancheria itália,
numa poça de vômito
a cocota feia se maquia

lancheria itália,
o orelhão liga direto
com a mauá (são paulo)
e o hell´s kitchen

lancheria itália,
teu balcão é um jardim de estátuas
de homens falidos

lancheria itália,
no banheiro o diabo faz-se a barba
e um minotauro se depila

lancheria itália,
teus anjos mijados
apagam cigarros
em cerveja e cuba libre

lancheria itália,
comem em silêncio
um x-salada
os namorados de amor à unha
malferidos

lancheria itália,
leva um travesti para casa
o taxista

lancheria itália,
os nóias tentam penhorar
a alma na instiga

lancheria itália,
crianças se amam
e dormem
no fundo do barco,
sobre cacos de vidro

lancheria itália,
marafonas tortas in extremis,
fedem
a perfume barato
tuas sílfides

lancheria itália,
babuja no ágape
a febre do rato
e a hanseníase

lancheria itália,
tuas toalhas de mesa
(não há toalhas de mesa),
feita de sudário
e calcinhas pink

lancheria itália,
com a flor da erva
prendem os cabelos,
penélopes do avesso,
musas com candidíase

lancheria itália,
derby euro dollar,
fumar daña la salud,
tuberculose e bronquite

lancheria itália,
tuas pervas negras,
iridescentes,
azuis e cinzas

lancheria itália,
lancheria itália,
putas bêbadas esbofeteadas:
as que choram,
as que se rilham

lancheria itália,
no hotel de foda
a valete
segura os saltos
e desliza

lancheria itália,
no hotel de droga,
beija-se a banguela
ao clangor do sódio
e da benzina

lancheria itália,
do castelo de greiscow
(onde caboclo chora
sem que mãe o veja)
chegam homens embolorados
pra cumprir a sina

lancheria itália,
teu prometeu pivete,
teu coro de aidéticos,
teu corifeu fardado,
teu criminoso enigma

lancheria itália,
16, 12, 157
lancheria lancheria itália
171, 121,155

lancheria itália,
tuas crianças hórridas
e esclerosadas
vão pra roça cedo ou tarde
e dão perdido

lancheria itália,
os pés como carpas,
respiração enguiçada,
os dedos corroídos

lancheria itália,
nada é de graça,
nada é de graça,
meu amigo

lancheria itália,
bocadefumo.abismo.com,
balé dos assassinos

lancheria itália,
teus operários trabalham
(em vão)
pra que o dia não nasça,
interdito

lancheria itália,
metalúrgicos do medo,
carpinteiros da catástrofe,
a manhã os demite

lancheria itália,
o coração no pescoço,
o silêncio, as moscas,
a aurora bandida

lancheria itália,
gira na memória
tua matéria de dor,
insônia e perfídia,

lancheria itália, giras
como o tambor do revólver
de um suicida

lancheria itália
lancheria itália,
cruz machado, periferia
do mundo e da vida

lancheria itália,
centro
de curitiba

Rodrigo Madeira

terça-feira, 18 de novembro de 2008

"la merde du sade caralius est"

três copos de vidro e vinho praticamente cheios de palavras bêbadas arremessadas contra parede. tu evocas a gargalhada de baco entre os cacos partidos do teu deus e te ajoelha neles, teu corpo sangra para que da cor renovada se faça a vida do progenitor ébrio. com as pernas cortadas, catas as chaves que tu não sabes bem se são chaves ou outro objeto palpavelmente parecido. 180/h como se nada a perder fosse a ferrugem e os amassados do teu carro fodido que segue automaticamente os rastros do hedonismo. um pé no acelerador enquanto o outro ameaça o freio. uma mão na marcha enquanto a outra segura firme o volante, olhos abertos de quem se surpreende com algo que ainda não aconteceu. o paradoxo da física: seu corpo inerte enquanto o carro flutua. pneus são hélices, são asas. ilusão que faz escorrer o pó de arroz que te maqueia. suor até que se feche a cortina vermelha.

Camila Vardarac

segunda-feira, 17 de novembro de 2008


Vegan

"Os animais são seus amigos
Não coma seus amigos"
frase vegan pixada nos muros da cidade

"Un soir, tu me sacras poète,
Blond laideron :
Descends ici, que je te fouette
En mon giron ;"

Arthur Rimbaud

Bombas de vírus
e bactérias venéreas
em espasmos idílicos
e sisos, servidos
em bandeja
plástica

salomés
da
freguesia,

[a]o curioso que espia
trás da verborragia
esperada.

Desregradas,
de bocas pesteadas,
sem noção
de quão decadente
o discurso descarado

às vacas do pasto
com seus rabos
que balançam
estourados.

[há um surto
na cidade
de vacas
estouradas
pelo carnívoro
desejo,

esqueléticas
ou obesas,
dá na mesma]

Sentam-se
á mesa os glutões
os quais,
destinado o abate,

riem,
satisfeitos em saber
quão fraca é a carne.

Silvana Bórgia & Ricardo Pozzo

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

foto by Susan Blum

Mimetismo

Nesse cemitério em que estamos
nada mais somos
do que espetaculares espectros,
especulares de nós mesmos,
esporadicamente reais!

Susan Blum, 1999
"l' amour c ' est un oiseau liberté"

Ensaio Sobre a Esperança...

Para ser lido ao som de Andrea Bocelli - "In Canto"

Estamos num desfile de sonhos, e somos um desfile para nós mesmos.
Tudo se esquece enquanto tudo gira, e dentro de nós, e tudo de nós gira. Se alguma coisa permanece, sim, e é digna de ser: o que é sagrado aos seres humanos como nós, mas depois que o desfile passa, dia a dia, o que resta?
As mãos vazias e os olhos vazios estúpidos?
Um pouco de felicidade e uma saudade profunda?
A inspiração luminosa e a expiração da deliciosa liberdade?
O que fizemos da vida?
E o que fizemos de tudo que nos foi dado?
Porque nos foi dado tudo, tudo, mesmo que nós fossemos tão imperfeitos. Esperança é isso mesmo.
Esperança é apenas esperança... um dos muitos sentimentos e esse sentimento pra mim é difícil...
ENFIM!!!
ESPERANÇA É TER A GELADEIRA CHEIA DE CERVEJA E FEIJÃO COM O REMÉDIO DA GRIPE AO LADO DO PINGÜIM E DANE-SE QUEM PENSA O CONTRÁRIO.
PONTO.
POIS TER FOME DE ESPERANÇA É ASSIM!

Marcio Aparecido dos Santos

Estou embebido de esperança e o que tenho? As pessoas passam e o Natal que se aproxima... É o Ano Velho que termina... É o Carnaval que se aproxima também e eu adornando minha fantasia que é a própria vida... para depois tudo acabar na quarta-feira...tristezas não tem fim, felicidades sim!
Acreditar na esperança é também ser “vítima” de si...

quinta-feira, 13 de novembro de 2008


o espelho

de camisa aberta
em frente a mim mesmo.

o espelho é a prisão profunda
de que somos vigias e presos,

condenados e carcereiros.
e no entanto o homem

é observado, triste alimária
de si mesmo. e no entanto

milhões de olhos o observam
atrás deste – de todos – os espelhos.

e no entanto (otnatne on e)
nada há de mais solitário

que o homem (povo estranho
e ninguém) num espelho.

2

nu, já vai
vestido
em pesada couraça
de nudez: imagem

linguagem
solidez permanente-
mente
líquida

apertar
a visão:
homem
inseto
árvore

num espelho
quantos
estilhaços
cabem?

3

o espelho de um narciso apóstata
reflete nos olhos suas costas.

o anonimato é a fundação
de meu espírito, arco árabe

de meu rosto. sou anônimo
como um cão vira-lata

condecorado com sarna, chagas,
laureado de moscas.

sou mais belo agora, cicatrizando
o tempo na carne a carne nas horas

do que quando fui belo bela criança
que se olhou no espelho de casa

como pássaro bebendo água (ingênuo
de imagem e essência) na poça.

superfície burra, sincera, óbvia,
ser é sermos é seres é: ?

4

o espelho, coisa mágica do vazio,
feito a arte, inventa volumes,

minha imagem é feita de carne
doce e arredia como perfume.

5

também reflito o espelho (eu, outro)
quando não há nada em sua frente.

o espelho, raso um bilhão de abismos,
fez-se a porta para a liberdade –

o espelho espelha a cidade,
o espelho raso como a página –

(vejo minhas vísceras no espelho)
infinito afora, além, por dentro


Rodrigo Madeira

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

foto by Angela Gomes

por favor, irmão

num sábado brutal,
ao perfume de pneu queimado,
desviando de uma poça de sangue baço,
incapaz de refletir a lua
ou contar a história do homem
que a verteu,
as pessoas tentando mais uma vez
chegar em casa,
mais uma vez tentando esquecer
o caminho de casa,
e um cara me pára na rua e pergunta
(depois das 9:00, há sempre um louco
atrás de um cigarro):

– como eu chego lá, irmão?

bem, não conheço nomes de rua.
calma lá, deixe-me ver...
faz assim: siga reto duas quadras
até o outdoor da unimed, beleza?
vire
à direita e caminhe mais duas quadras,
na esquina você vai ver um mendigo
(o sem cobertor,
bebendo uma barrigudinha),
quebre à esquerda e depois,
duas quadras depois, onde fica um traveco
(o loiro, de saia preta de couro falso),
de novo
à esquerda. daí você vai até
o segundo farol, não o do malabar
de 10 anos de idade, o segundo, o segundo,
onde fazem ponto uma puta e um traficante...
não tem erro, irmão,
logo em frente você vai ver:

IGREJA ADVENTISTA DO SÉTIMO DIA

Rodrigo Madeira

domingo, 9 de novembro de 2008

Bocágil by Albert Nane

O Sermão da Identidade

Minhas ovelhas, escutai-me agora:
eu nunca estou nos versos que profiro,
não há eu no poema, apenas nada.

Não devem os poetas de meu tempo
buscar no texto frágil que produzem
plasmar a identidade ou revelá-la.
Não há eu no poema, apenas nada.
Não devem os poetas de meu tempo
buscar em seus poemas a dureza
da matéria objetiva deste mundo.
A forma sempre falha. E o conteúdo
ali contido é pobre como a fala.
Poema não é feito, ele acontece.

Ovelhas minhas, evitai a negra
tentação, tão mesquinha, de exibir-se
num poema, de achar que ali se acha
a identidade do poeta esteta.
Nã-nã nã-ni nã-não, de modo algum!,
Bocágil não sou eu, vós sois Bocágil,
poema não é feito, ele acontece.
Os balbucios doces ou as rimas,
os sussurros macios ou os gritos
em terça rima pouco ou nada podem
contra a urgente emergência do sentido.
A poesia só será sentida
se o seu sentido ousar ultrapassar
a linha do banal, se derrubar
com versos poderosos a muralha
do tosco mundo do cotidiano,
que dominou há muito a arena pública.

Criar poemas é abrir-se ao nada.

Ficai calminhas, ó ovelhas minhas,
ouçais que digo aqui que não se trata
de buscar o fantástico da vida,
o lado onírico da realidade;
na verdade o que quero vos dizer
é que o poeta mexe co sentido
de seu mundo, co ser de seu contexto.
O tecido verbal que nos regala,
e que eu também vos dou em meus poemas,
vale menos pela estrutura dura
da forma, ou pelo vão significado
das palavras, que pelo seu sentido.
Um poema é como um templo vivo,
é como o mar, o céu ou um jardim.
Deve ser tão antigo quanto novo,
tão certo quanto indeterminável.

Ó meu rebanho, vede o temporal,
ouçais agora os versos principais
do altíssimo sermão da identidade:
Eu sei que o verbo antecedeu o homem.
Os mortos nascem outra vez co verbo
vivo, co’a verve em nervos do poeta.
O vate enterra os vivos e viola
túmulos esquecidos e importantes.
E a identidade do poeta é nada.
Seu ato vale, valem as palavras.
A identidade do poeta é nada,
o artista é cria de su’a própria obra.
O verbo é vivo e age sobre o mundo.
Com palavras é que se funda Estados.
Com palavras é que se muda o estado
de coisas e de classes, que se mata
o vil significado de palavras
mortas, que se transforma o que passou
e dá vigor e alento ao que virá.
A identidade do poeta é nada.

Eu vim aqui cantar o fim do tempo
em que o poeta é um adorno apenas.
Poetas morrerão, não os poemas.
A minha identidade nada vale.
O nome de Bocágil é Bocágil.
A face de Bocágil é o espelho.

Manoel Du Bocágil


post do bocágil, roubado, sob permissão, do blog de albert nane:
http://albertnane.blogspot.com/

sábado, 8 de novembro de 2008

Cara Britney

Eu queria muito que às vezes, somente e pelo menos às vezes, pequeninos eventos acontecessem ao meu modo, no meu tempo, na proporção de minha vontade.
Afinal, como diria o tal filósofo, somos isso: vontade + potência.
Mas acho que viver a vida real deve ser dançar, cantar e representar conforme a música...
Se nossas cadências precisarão de ajustes, caso queiramos ser alguém na vida um do outro... qualquer tipo de alguém, deveremos então sorrir sempre pra fingir que é verdade!
Se gostamos tanto de alguém, é também dos inclusives e poréns: gostamos simplesmente por ser cada um do jeito que é.... TALVEZ POR ISSO, VOCÊ CANTA DANÇA REPRESENTA ENGORDA EMAGRECE CHORA E RI TANTO...
E gostar é apenas aceitar como um canteiro com flores e ervas daninhas...
É gostar do seu entorno, contorno...adornos...consolos...ou o todo?
Apenas peço, clara e literalmente, o que acho que você poderia me dar: UMA AMBULÂNCIA TAMBÉM?
Então faço a pose: vogue vogue...marlon brando, James dean...
EI BRITNEY CANTAROLA A MADONNA...
Que é uma rosa???
...uma rosa É UMA ROSA e nada mais além disso...mas mesmo assim gostaria de receber flores todos os dias!
Pois nada como ter uma casa florida...
Poderiamos ser todos um lindo jardim?
QUERO SER UM JARDIM... por isso...TENHO QUE IR AO HOSPITAL. por que não...fazer como você Britney?
Se não está feliz...saia de ambulância da vida...e pela vida também.
Para que sorrir?
PARA FINGIR QUE É VERDADE?
Para os outros...e não para você?
Então chore, grite, proteste...exiga sua ambulância, E USE UM ÓCULOS PRADA....JÁ QUE VOCÊ NÃO SABE ONDE ESTÁ O SEU POTE DE COLÍRIOS? POSE-VOGUE.
Eu preciso e necessita da minha AMBULANCIA....agora!
VOGUE! PAUSAS! POSES!
SE NÃO ESTÁS FELIZ...Então para que ficar com cara de propaganda de margarina? BEBA PEPSI!
Sorrindo para as desgraças da vida, para a fome de existir...TOME COCA E COLA
Sejamos britneys spice girls spears!!!
VOGUEANDO/MORIMBULANDO POR AI e pedindo desculpas...por qualquer aborrecimento, a fatalidade do existir.
Basta! (explosão)...
Quero como você CHORAR E POSAR EM PAZ!
Quero poder chorar e lamuriar NA TIME!
Quero uma ambulância pra mim também!
Quero e preciso e espero...
Apenas preciso admitir como você que sou infeliz também (admito agora então...), por isso estou sempre de luto!
SEJAMOS INFELIZES ENTÃO...
EU QUERO UMA AMBULÂNCIA...
EU PRECISO SER MEDICADO...COM O ELIXIR DA VIDA.
ACHO UMA OUSADIA.... VOCÊ BRITNEY...
FAZENDO POSES PRAS VOGUES...
CAPA E CONTRA CAPA IRADA, GOLPEADA E CHOROSA...
POSES ....
VOGUES... SAINDO SIMPLESMENTE PELAS RUAS SACOLEJADAS DE HOLLYWOOD BOULEVARD POR UMA AMBULÂNCIA...E DANE-SE O QUE O MUNDO PENSE!
EI BRITNEY? MADONNA PERGUNTA! CANTA E RESMUNGA
DA PROXIMA VEZ SE ESTIVER TRISTE E/OU INFELIZ ADMITA, POIS NÃO HÁ AMARGURA NENHUMA EM SER LEAL CONSIGO PRÓPRIO...E QUE O MUNDO SAIA DE MACA...DE MACABÉA...
EU GRITO BÉÉÉÉÉÉÉÉ
POIS ELE ESTÁ TODO DOENTE POR FORA E POR DENTRO...
O MUNDO PRECISA DE CURATIVOS (EXPLOSÃO)...
A Britney precisa!
O JAMES, A GISELE, O BRANDO E OS MANSOS E MANCOS
EU PRECISO, QUERO E EXIGO!
AMBULÂNCIA POR FAVOR ... SIGA AQUELE TAXI!!!!!

Marcio Cido Santos

Enquanto escrevo ...mi madre dorme...e que todas as mães sejam felizes...ou então que gritem também ou que se calem para sempre.