sábado, 30 de setembro de 2017

faxina na alma.


Lagrimar
no denso
ou no deserto

dor da lágrima
pálpebra abaixo

sentimentos

e
s
c
o
a
m

sem censura



Ricardo Mainieri            


Pescando as esperanças neste rio,
As curvas do caminho são fatais,
Os dias na verdade nunca mais,
O tempo se anuncia mais sombrio.

E quando, sem sentido eu desafio
O tanto que decerto agora trais,
Nas lutas, os anseios tão venais,
E o canto nalgum canto, ledo e frio.

Porém o que virá nem mesmo sei,
O quanto nesta vida desejei
Nem mesmo uma ilusão me diz aonde.

Pescando neste rio, o que virá?
Do ledo sofrimento ao bom maná.

Somente o próprio anzol ora responde...

Marcos Loures

Silogismo poético


Somos um conjunto
de premissas

Feixe de contradições.

Antíteses em busca
de uma síntese.



Ricardo Mainieri             


o vento rubro
um perfume de rosa
pétalas voam


(Cristina Desouza)

sexta-feira, 29 de setembro de 2017

POETA É UMA MERDA!



Tem certas palavras
que vivem de “foder” o juízo!
Devoram entranhas,
matam aos pouquinhos.

A palavra inquietude é uma merda!
Devorou parte do meu fígado,
parte do pâncreas, o baço
e um pedaço do intestino.

Fez com que eu “descomesse”
palavras e significados,
tudo misturado numa massa pastosa,
que alguns chamam de verso.

Pior do que ela,
só a palavra amargura,
Lembra coisa pesada,
e de solidez cristalizada,
em nódulos, abscessos...
Faz adormecer pedra
e acordar depressão.

Poeta é uma merda!
Ou vive da inquietude,
ou morre de solidão.



 NALDOVELHO

MEU VÍCIO




Viciado em lamber madrugadas,
principalmente as insones,
fico todo excitado,
dano de falar bobagens,
e quando percebo:
escrevo um poema.
Mais uma ou duas lambidas,
e escrevo outra vez...



Amanheço remelento de versos.

Pura insensatez!




NALDOVELHO

MEUS RINCÕES



Longínquos os rincões onde esperança
Firmou seu pensamento em noite clara,
E quando o grande amor já se declara,
A vida, sem ter freios sempre avança.

Levando na guaiaca esta lembrança
Da prenda mais bonita, jóia rara,
A minha montaria que me ampara,
Aos longes das coxilhas sonhos lança.

E pego mil estrelas com as mãos,
Os dias que vivera todos vãos,
Agora são promessas de alegria.

Viver cada momento inesquecível,
Tornando o imaginário mais plausível,

Num mundo mais perfeito que se cria...

Marcos Loures

GENTE ENLUARADA


Gente enluarada
gosta de viajar nas funduras,
tem mania de desentranhar coisas
do seu e de muitos umbigos
e costuma ficar ruminando o silêncio
até ter dele seus significados.

Gente enluarada
tem os olhos marejados pela nostalgia
das escolhas que não foi capaz de fazer,
da saudade que não consegue esconder
e das madrugadas encharcadas
de solidão e orvalho.

Gente enluarada
precisa conviver com as águas
e traz nas mãos sementes de faz de conta,
macera palavras noite e dia,
só para poder contar histórias,
embaraçar enredos, resgatar memórias.

Gente enluarada
costuma ter vida sofrida,
mas consegue sempre sobreviver à ruína
e de portas e janelas escancaradas
constrói a cada dia um sonho,
coisa mais linda de se ver!


NALDOVELHO